João Alfredo Lopes Nyegray e Danielle Denes dos Santos*


Depois de 13 anos da primeira reunião, as 19 maiores economias do planeta – o G20 – reuniram-se em Roma no último final de semana de outubro para debater o futuro do planeta. Essas nações representam cerca de 90% do PIB mundial, mais de 80% do comércio e investimentos internacionais e 66% de toda população do mundo. Trata-se não apenas de um grupo com poder suficiente para tomar as decisões globais mais relevantes, mas também uma grande oportunidade para os líderes que participam dos debates sobre as mudanças climáticas e as metas de comprometimento de cada nação sobre o tema.  

Correspondentes locais afirmavam que, enquanto Merkel, Macron e Guterrez conversavam amigavelmente em um dos ambientes da conferência, e os primeiros-ministros da Austrália, do Canadá, da Índia e do Reino Unido pareciam negociar acordos para problemas conjuntos; nesse cenário, o Brasil estava – infelizmente – isolado: não participou de nenhuma reunião bilateral com os demais líderes, e sequer compareceu à Fontana di Trevi para a foto oficial da reunião. 

Anteriormente muito requisitado nas importantes negociações internacionais, o que se viu foi um Brasil despercebido e ignorado. Uma política externa mais ativa para as questões comerciais é exatamente o que precisávamos nesse momento. A abertura de novos mercados para os produtos brasileiros pode – num momento de real desvalorizado – estimular as exportações e movimentar nossa economia combalida pelo desemprego e pelas pressões inflacionárias. 

Outro ponto de destaque dos últimos dias é a reunião da COP26 (Conferência das Partes), a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, sendo realizada na Escócia. Eis aqui outro ponto de pressão sobre o Brasil, o governo e a imagem de nosso país. As atuais políticas ambientais brasileiras, muito criticadas nacional e internacionalmente, seriam certamente algo a se esclarecer e se debater em Glasgow. Essa é, provavelmente, uma das razões pelas quais o presidente brasileiro não esteve presente na abertura do evento. 

Os discursos ali foram bastante ambiciosos, e o comprometimento das nações com as metas de redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE) e seu clima de urgência refletem o ponto de não retorno ao qual estamos chegando: aquele em que nenhum esforço será suficiente para retornar ao status anterior de recursos naturais e ambiente equilibrado. 

Nos principais tópicos em discussão na COP26, o Brasil deixa a desejar: o país não apenas não cumpriu com o que se comprometeu a fazer para frear as mudanças climáticas, como seguiu na contramão e elevou as emissões de GEE durante a pandemia. Sobe a emissão, desce a reputação – além de não cumprir com o prometido no Acordo de Paris, a métrica foi alterada pelo governo, o que significa que o país passa a calcular de forma diferente as emissões, gerando desconfiança e falta de transparência nos dados publicados. 

Mais do que tomar medidas concretas pela preservação conjunta do meio ambiente, sabe-se que a inação climática é pior do que metas pouco ousadas. Enquanto a consciência a respeito dos fatores ambientais cresce em todo o mundo, fronteiras se fecham para produtos que vêm de países não comprometidos com a pauta ambiental. O acordo comercial Mercosul-União Europeia está travado, dentre outras razões, pelas políticas brasileiras de preservação do meio ambiente.

Desde a conferência de Estocolmo em 1972 e, principalmente, a conferência do Rio de Janeiro em 1992, o Brasil sempre foi protagonista nas discussões sobre sustentabilidade. O que estamos perdendo no momento não é apenas esse protagonismo, mas o prestígio construído em décadas de esforços por um mundo limpo e uma economia mais sustentável.

A COP26 acontece anualmente com o objetivo de avaliar o andamento de cada país com relação aos seus compromissos para o combate ao aquecimento global e as mudanças climáticas. O futuro do planeta, assim como das relações comerciais e até mesmo da sua vida cotidiana, é discutido na conferência, tendo em vista que, cada vez mais, os acordos comerciais estão pautados nas políticas ambientais e climáticas das nações. Inspirar confiança no cenário internacional requer maturidade, transparência e políticas claras de combate às mudanças climáticas, apoio às comunidades mais afetadas e o estabelecimento de uma agenda equitativa. Não há mais o que esperar: o momento de mudar é agora.

*João Alfredo Lopes Nyegray, doutorando em estratégia, coordenador do curso de Comércio Exterior e professor de Geopolítica e Negócios Internacionais na Universidade Positivo.

*Danielle Denes dos Santos é doutora em administração e pós-doutora em políticas para inovação e coordenadora adjunta do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Positivo.