Doutor em endocrinologia clínica explica como funciona a reposição hormonal durante o climatério e aponta formas de amenizar os sintomas que aparecem neste período
A menopausa é o evento que marca a o fim da vida reprodutiva no sexo feminino, podendo ser definida como a “última menstruação”. Neste período de transição em que a mulher passa da fase reprodutiva para a fase de pós-menopausa, chamado de climatério, é bastante comum o surgimento de uma série de sintomas desagradáveis. Apesar de ser uma fase difícil, é possível amenizar os sintomas do climatério e passar por este período com boa qualidade de vida.
“A menopausa é o evento que marca a morte dos ovários, que são os órgãos reprodutores que armazenam os óvulos nas mulheres. Esse evento é um ponto, não um período. Tudo que acontece depois a menopausa a gente chama de pós-menopausa”, explica o doutor em endocrinologia clínica Flavio Cadegiani.
“É importante falar que os ovários não morrem por inteiro. Então, mulheres que tiraram os ovários, por exemplo, têm mais sintomas de menopausa e têm maior risco de problemas associados ao pós-menopausa do que mulheres que entram na menopausa, mas não retiraram os ovários”, completa.
A faixa etária média para a mulher entrar na menopausa é entre 48 e 52 anos. De acordo com o médico, a idade é o principal aspecto a ser observado para uma mulher saber se está chegou na menopausa. “Normalmente, acima de 48 a 50 anos, ela pode passar a desconfiar”, diz.
“Existe uma diferença entre menopausa clínica e menopausa bioquímica. Sem ter acesso a exames de sangue, a gente considera que a paciente está na menopausa quando ela está há mais de um ano sem menstruar. No caso de termos acesso a exames de sangue, conseguimos identificar a menopausa do ponto de vista bioquímico, que é mais preciso”, explica Cadegiani.
Ondas de calor e outros sintomas
O climatério é um processo que pode durar até sete anos antes da menstruação cessar totalmente. Com isso, as mulheres apresentam alguns sintomas, que variam entre cada uma. Entre os principais sintomas da menopausa estão as ondas de calor.
Elas acontecem porque os hormônios femininos atuam na motricidade dos vasos sanguíneos, isto é, na parte motora, pois os vasos têm músculos que contraem e relaxam. “Quando isso acaba, o corpo feminino tem uma completa disfunção desses vasos, então, às vezes eles abrem de uma vez ou contraem de uma vez, dependendo da região”, informa o endocrinologista.
“Essas ondas de calor acontecem mais no tronco superior, do peito até a cabeça, e são abruptas, ocorrem durante uns 15 minutos e mais pela noite. Mas é importante dizer que nem sempre a mulher apresenta isso. Esse calor vem com a queda dos hormônios. Então, quanto maior a queda, maior a chance de ter essas ondas”, destaca Flavio Cadegiani.
Os calores tendem a passar com os anos de pós-menopausa, uma vez que o corpo vai se acostumando. Mas, além disso, há outros sintomas que podem incomodar mulheres neste período.
“Pode ocorrer ganho de peso, por haver uma queda abrupta no metabolismo; depressão; distúrbios do sono; asma pós-menopausa; secura vaginal, com dores no ato sexual; e até mesmo osteoporose”, pontua.
Uma vez que a menopausa pode provocar impactos na vida sexual, mental e física da mulher, é necessário que ela mantenha uma rotina de cuidados para manter o seu bem-estar. “Além do tratamento médico, quando necessário, é importante criar uma rotina de atividade física e ter uma alimentação mais anti-inflamatória. Esse estilo de vida pode ter um importante papel na redução de sintomas na pós-menopausa”, ressalta o especilista.
Alimentação saudável, atividade física regular, não fumar e evitar o consumo de álcool são algumas medidas que podem ser úteis para minimizar os sintomas negativos do climatério.
Reposição hormonal e tratamentos
Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Climatério (Sobrac) publicada em julho de 2022 na revista científica Climacteric, da International Menopause Society (IMS), revelou que a maioria das brasileiras não faz tratamento hormonal adequado – a principal forma de reduzir os sintomas do climatério.
O estudo contou com 1,5 mil mulheres com idade entre 45 e 65 anos e mostrou que quatro em cada 10 entrevistadas relataram sintomas como depressão, insônia e ansiedade. Do total de mulheres da pesquisa, somente 22,3% receberam recomendações médicas para realizar o tratamento hormonal a fim de reduzir os sintomas.
Atualmente, a reposição hormonal está relacionada com uma melhora significativa da qualidade de vida da mulher. Geralmente, essa terapia é uma estratégia para repor os hormônios que não são mais produzidos pelos ovários. Ela tem a vantagem de aliviar os sintomas físicos e os relacionados com os órgãos genitais no climatério. Além disso, funciona como proteção contra a osteoporose e assegura melhor qualidade de vida para a mulher. No entanto, existem contraindicações que devem ser avaliadas com cuidado pelo médico e pela mulher.
“Até o início dos anos 2000, entendia-se que todas as mulheres tinham que repor hormônio na menopausa. Só que saíram dois estudos nessa época apontando aumento de risco de uma série de coisas e a reposição da menopausa caiu mais de 95% com isso. E, agora, temos novos estudos que mostram a importância do tratamento em certos casos. Por isso, avaliamos caso a caso, entendendo que depende da mulher, da idade e se ela tem sintomas”, explica o doutor em endocrinologia clínica.
De acordo com Flavio Cadegiani, uma boa estratégia é usar “hormônios naturais”, que são a própria progesterona e o estradiol. “Hoje, a gente usa também alguns fitoterápicos, tem também a isoflavona, que é de soja, há várias opções”, diz.
“Mas o importante é que atualmente sabemos da importância e dos benefícios da reposição hormonal para quem precisa. Hoje, a gente sabe que pode repor sem medo”, finaliza Cadegiani.
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