Volgane Carvalho


Especialista comenta preocupação do governo brasileiro com a eleição argentina, mas avalia que uma ruptura total entre os dois países é pouco provável


Os argentinos vão às urnas no próximo domingo (22/10) para o primeiro turno das eleições presidenciais. Em momento de grande crise socioeconômica no país, as eleições têm três protagonistas com características distintas: o candidato de extrema direita Javier Milei, a ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich e o atual ministro da Economia Sergio Massa.


Duas de três pesquisas eleitorais realizadas recentemente mostram Milei à frente. Outro levantamento aponta Sergio Massa na liderança neste primeiro turno.


Preocupação do governo brasileiro


A possível vitória de Javier Milei, seja no primeiro turno ou em um eventual segundo turno, preocupa o governo brasileiro devido às medidas polêmicas e às declarações do presidenciável contra governos de esquerda. O candidato defende pautas como a dolarização da economia argentina e o fechamento do Banco Central. 


“A grande preocupação é porque o Brasil e a Argentina são os maiores parceiros comerciais do continente Latino-Americano e a dolarização da economia traria um impacto direto nessas relações externas e comerciais entre os países”, comenta Volgane Carvalho, coordenador acadêmico da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), mestre em direito e doutorando em políticas públicas.


Volgane é um dos palestrantes da programação acadêmica da Missão de Observação Eleitoral que acompanhará as eleições argentinas do próximo domingo. Ele acrescenta que a própria questão da extinção do Banco Central argentino e a sua vinculação ao Banco Central dos Estados Unidos seria outro fator que implicaria nessas relações econômicas.


Apesar disso, o especialista avalia que uma ruptura total entre Brasil e Argentina é pouco provável. “Não deve haver essa alteração tão grande, porque as relações agora estão sendo guiadas pelos princípios diplomáticos, que não priorizam exatamente a ideologia partidária do governante”, analisa Volgane.


O especialista ainda considera que o candidato de extrema direita não tem um plano econômico bem desenhado e claro. Assim, pode acabar não cumprindo tudo que tem falado na campanha.


“Milei parece não ter medidas imediatas que possam contribuir para reorganizar a economia argentina. Ele tem algumas promessas de impacto, que talvez não sejam factíveis, como a dolarização da economia e a extinção do Banco Central”, diz.


Como funciona a eleição na Argentina


As eleições presidenciais na Argentina são realizadas de quatro em quatro anos.


Para vencer em primeiro turno, o candidato à presidência precisa receber 45% dos votos válidos ou 40% com pelo menos 10 pontos percentuais de vantagem sobre o segundo colocado. Caso ninguém atinja essa marca, haverá um segundo turno, que está previsto para ser realizado em 19 de novembro de 2023.