Renato Rocha

Nenhuma conquista feminina veio sem resistência. O acesso à educação, ao mercado de trabalho e aos direitos políticos e sociais não foi uma concessão, mas fruto da determinação de gerações de mulheres que se recusaram a aceitar as limitações impostas a elas. Em todos os espaços, seja no trabalho, na família, na ciência, na cultura, na política ou na liderança, as mulheres seguem rompendo barreiras e desafiando estruturas que, historicamente, tentaram silenciá-las. O Dia Internacional da Mulher é um marco dessa caminhada contínua, que segue exigindo vigilância e ação para que retrocessos não apaguem os avanços conquistados com tanto esforço.

Desde as primeiras reivindicações organizadas, como os movimentos sufragistas do século XIX, até os protestos das operárias por melhores condições de trabalho, as mulheres tiveram que se mobilizar para serem reconhecidas como cidadãs plenas. No Brasil, a conquista do voto feminino em 1932 foi um passo importante, mas insuficiente para garantir igualdade real. Ainda hoje, a sub-representação feminina em cargos de poder na política e no serviço público reflete o longo caminho que precisa ser percorrido para que todas tenham voz e influência na tomada de decisões.

No mercado de trabalho, os desafios persistem. Mulheres ainda enfrentam desigualdade salarial, são minoria nos cargos de liderança e muitas vezes precisam se desdobrar entre a profissão e a jornada doméstica. Além da disparidade salarial, muitas trabalhadoras ainda lidam com ambientes hostis e preconceituosos. O assédio moral e sexual são realidades presentes em diversas profissões, o que torna fundamental a ampliação de mecanismos de denúncia e proteção. A estabilidade no emprego após a maternidade, a equiparação salarial e a ampliação de benefícios voltados às mulheres não são privilégios, mas garantias mínimas para que possam desenvolver suas carreiras sem serem penalizadas por escolhas naturais de vida.

A maternidade, embora seja uma escolha legítima e muitas vezes um desejo das mulheres, ainda é vista como um fator limitante na carreira profissional. Muitas são penalizadas no mercado de trabalho por engravidarem ou por precisarem conciliar suas responsabilidades familiares com a vida profissional. Licença-maternidade, estabilidade no emprego e políticas de suporte à mulher que trabalha e cuida de uma família não devem ser vistos como privilégios, mas como direitos fundamentais.

A violência de gênero segue sendo um dos maiores entraves para o avanço feminino. No Brasil, a Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, foi um marco na proteção das vítimas, mas ainda há muito a ser feito. O número de mulheres que sofrem violência física, psicológica e econômica no país é inaceitável, e enfrentar essa realidade exige muito mais do que legislação. É necessário fortalecer as instituições que garantem essa proteção e, principalmente, mudar estruturas que normalizam esses crimes.

O combate à violência contra a mulher não pode se restringir ao amparo legal. É preciso romper com padrões culturais e sociais que perpetuam a ideia de que a agressão pode ser relativizada. Maria da Penha, cujo nome se tornou símbolo dessa luta, segue ativa aos 80 anos, reforçando que o combate à violência de gênero não se encerra com a criação de leis. Sua trajetória de resistência reafirma a necessidade de seguir avançando para que nenhuma vítima seja silenciada.

A história prova que as mulheres sempre estiveram na linha de frente da construção da sociedade, mesmo quando seus feitos foram invisibilizados. Hoje, elas lideram empresas, dirigem cidades, ocupam tribunais, impulsionam a economia e transformam comunidades com iniciativas locais. 

O Dia Internacional da Mulher não pode ser reduzido a homenagens superficiais ou discursos vazios. Ele deve servir como um compromisso coletivo para garantir que todas as mulheres tenham acesso aos direitos que lhes foram negados por tanto tempo. A luta por equidade não é um esforço individual, mas um movimento que precisa ser sustentado por toda a sociedade. A história já mostrou que as mulheres não recuam e que seguirão avançando, independentemente dos desafios que tentem impor a elas. O futuro só será verdadeiramente justo quando cada mulher puder viver com liberdade, respeito e dignidade. 


Renato Rocha, advogado e idealizador do projeto Justiça Para Todos.