O Dia do Jovem, como tantas outras datas comemorativas, corre o risco de ser engolido por homenagens protocolares e discursos prontos que ignoram a realidade enfrentada diariamente por milhões de jovens brasileiros. É necessário ir além da celebração. É preciso encarar com seriedade o que significa ser jovem em um país marcado por profundas desigualdades sociais, raciais e econômicas.

A juventude brasileira é frequentemente romantizada como sinônimo de potência e futuro. No entanto, os dados mostram um presente desafiador. Jovens são os que mais sofrem com o desemprego, com a evasão escolar, com a violência urbana e com a falta de acesso à saúde mental. São também os que mais morrem vítimas de homicídios, em sua maioria homens negros, periféricos, e invisíveis aos olhos das políticas públicas.

O Estado, que deveria garantir direitos fundamentais, frequentemente se ausenta ou se faz presente apenas por meio da repressão. Em vez de proteção, oferece omissão. Em vez de oportunidades, impõe barreiras. E a sociedade, muitas vezes, culpa o jovem por não alcançar metas que nunca lhe foram viáveis. Espera-se muito de quem recebeu tão pouco.

Celebrar o Dia do Jovem deveria ser um compromisso com a transformação dessa realidade. É preciso investir em educação de qualidade, em cultura, em esporte, em qualificação profissional. É urgente construir políticas públicas que enxerguem os jovens como protagonistas e não como estatísticas. O acesso à justiça também é parte essencial desse processo. Sem ele, continuamos negando cidadania plena a uma geração inteira.

É urgente que a juventude tenha espaço de participação efetiva nas decisões que afetam seu presente e seu futuro. Não se trata apenas de representatividade, mas de voz ativa, de presença real nos fóruns de debate, nos conselhos, nas instituições públicas e nos parlamentos. A juventude não pode continuar sendo apenas pauta. Ela precisa ser sujeito da própria história.

Renato Rocha, advogado

E para que isso ocorra, é necessário um pacto coletivo pela dignidade juvenil. Um pacto que envolva Estado, sociedade civil, setor privado e cada cidadão disposto a reconhecer que a juventude não é apenas uma fase passageira da vida. É um tempo cheio de urgências e de promessas, que exige responsabilidade e ação concreta.

Ser jovem é coisa séria. É viver na borda do abismo e, ainda assim, sonhar. É resistir em meio ao descaso, lutar por voz onde impera o silêncio, encontrar caminhos onde quase sempre há muros. Que o Brasil aprenda a enxergar sua juventude não como problema a ser contido, mas como potência que precisa ser cuidada, acolhida e valorizada. Porque não há futuro sem presente, e não há presente digno sem justiça.

Renato Rocha, advogado e fundador do projeto Justiça Para Todos