Governo prepara mudanças no crédito imobiliário para reduzir juros
Para o especialista Daniel Claudino, proposta pode ampliar recursos, mas não garante mais acesso à casa própria
O acesso à casa própria tem se tornado cada vez mais difícil para milhões de brasileiros. Com juros elevados e preços de imóveis em alta, financiar um imóvel virou um desafio que mantém o sonho da moradia própria fora do alcance. Para enfrentar esse cenário, o Governo Federal prepara um pacote de medidas para tentar baratear o crédito imobiliário e destravar o setor.
A proposta em estudo visa dobrar o volume de recursos disponíveis para o financiamento habitacional por meio de um modelo considerado inovador: um mecanismo de “multiplicador financeiro” que flexibiliza o uso da poupança retida nos bancos. Hoje, 65% dos recursos captados por meio da poupança devem, obrigatoriamente, ser destinados ao crédito imobiliário. Caso contrário, os bancos são penalizados.
Com a nova proposta, os bancos que concederem financiamento imobiliário usando outras fontes — como Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA) — poderiam liberar o mesmo valor da poupança para outros tipos de crédito mais lucrativos, como consignado e cartão de crédito.
Para o especialista em mercado imobiliário Daniel Claudino, a medida tem potencial, mas exige cautela. “No papel, o modelo é interessante porque aumenta a liquidez no sistema. Mas liberdade para os bancos não significa, necessariamente, mais crédito para habitação. Eles podem usar os recursos para produtos com maior rentabilidade e menor risco, o que nem sempre favorece o consumidor”, alerta.
A preocupação não é infundada. Nos últimos 12 meses, os preços de venda e aluguel de imóveis cresceram acima da inflação. Em algumas capitais, o aluguel já compromete até metade da renda mensal dos trabalhadores. “Temos um cenário perverso: imóveis caros, aluguel elevado e financiamento inacessível. Isso trava o mercado e impede a mobilidade habitacional da população”, afirma Claudino.
Outro ponto de atenção é o enfraquecimento da caderneta de poupança, que tem perdido espaço para investimentos como Tesouro Direto e renda variável. Essa migração pode comprometer a base de recursos necessária para sustentar o novo modelo.
Mesmo assim, a equipe econômica acredita que as medidas podem estimular a concorrência entre os bancos, reduzir os juros e reaquecer o mercado imobiliário — além de aliviar a pressão no mercado de locação. Os detalhes finais da proposta estão sendo definidos e devem ser anunciados nos próximos dias.
“É uma proposta ousada. A chave será garantir que esses recursos cheguem, de fato, a quem precisa financiar um imóvel. Caso contrário, pode se tornar apenas mais uma brecha para ampliar o crédito em setores já saturados”, conclui Claudino.

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